quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Descrição

Olho em volta e o que vejo? Vou descrever minuciosamente para todos aqueles (quem? onde?) que frequentam este blog. Na minha frente, Daniel Pinton, ex-jornalista do Lance! e hoje companheiro de trabalho. Está com uma roupa azul e aparentemente esqueceu de fazer a barba. Logo atrás do colega, quadros de edições passadas e uma espécie de janelinha trancada que dá para um lugar místico e que ninguém se atreve a abrir. Pouco mais para a esquerda há o ar condicionado, este amigo de todos os cariocas e que, coitado, tem trabalhado a pleno vapor há algumas semanas.

Viro meu tronco para a esquerda. Ou só a cabeça mesmo. Vejo o arquivo do jornal. Cadernos e mais cadernos de páginas amareladas e ridículas dos anos 50, 60 e por aí vai... Há também a escada, por onde eu entro e invariavelmente saio todos os dias.

Agora sigo para a descrição da minha mesa. À esquerda, uma pilha de jornais velhos, encabeçada por um relatório do Comitê Olímpico Rio 2016 (o tal relatório que convenceu o COI de que isso seria uma boa). Perto há o meu estojo, onde peguei uma caneta BIC preta mais cedo para anotar o telefone de uma pizzaria local. A BIC se encontra, neste momento, no canto inferior esquerdo da mesa. Perto dela há uma garrafinha d'água, que costumo encher a cada meia hora com base na minha nova estratégia de hidratação, que é um assunto complexo demais para explicar neste post. Na extremidade esquerda da mesa, a câmera do jornal, que irei usar mais tarde. Próximo, o caderno de anotações, onde vejo alguns rabiscos que serviram para testar a funcionalidade da BIC preta. Ainda na esquerda da mesa (!!!) há meu MP3 que parece um Ipod, mas não é, e um cartão telefônico do vice-presidente da Abav, junto com uma cartinha me desejando um feliz Natal, da mesma instituição. Na minha direita, um calendário que nunca utilizo, uma lista de telefones de todos da redação, mais uma pilha de jornais e, acima dela, meu telefone defeituoso. Esta é minha mesa.

Atrás de mim, há outra escrivaninha com o PC do estagiário, que está atrasado. Logo após este computador, fica o chefe de reportagem Alysson Cardinali, que neste momento está com uma camisa rosa e me pede o fone emprestado. Ignoro o motivo. Lá pro fundo da sala, fica o auxiliar administrativo Fábio alguma coisa, que passa o dia jogando Space Invaders. Ao lado do rapaz, fica a geladeira.

Na direita da sala, estão a sala de edição e o quartinho do RH, onde ficam os procurados talheres da Cristina, que são essenciais quando o restaurante, ao mandar a quentinha, esquece de anexar o garfo e a faca de plástico. Espero ter sido útil.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Porcelana Azul

Então isso é o que chamo de saudade. A porcelana azul pode ser quebrada após anos ou em alguns dias. No meu caso, estou há 53 horas sem o meu anjo, que viajou para Arraial do Cabo com a família. “Dois dias e pouquinho só. Como assim, Felipe? Não está sendo dramático?”. Não. Em oito meses de união com esta rosa, nos falamos diariamente com uma frequência invejável entre outros casais. Ontem e hoje, porém, nosso tempo exato de diálogo é de 4m17s. Banalidades como “estou no trabalho”, que geralmente vem com a resposta “é tudo tão bonito aqui... os peixinhos, o mar azul. Vou passar o resto do dia em Búzios”.

Não sei o que esta pessoa está fazendo. A comunicação é complicada. Minhas armas nervosas estão carregadas. A qualquer momento posso atirar, ocasionando uma explosão emocional de graves consequências. Faço papel de bobo. De um lado, o Sil malandro, combinação de influências urbanas, que grita: “não ligue para ela, otário. Não vê que ela está se divertindo? Deixa ela te ligar. Não corra atrás”. Do outro lado, o Sil romântico, mais condizente com a história da minha adolescência e de suas intermináveis tardes a decifrar versos românticos em um quarto fechado: “você finalmente encontrou a mulher que sempre procurou. Não se faça de difícil. Ligue para ela. Abra-se para esta pessoa e diga o que está sentindo. Não tenha medo de parecer babão ou outra coisa parecida. Afinal, o importante é ser você”.

Conheço-me bem. Optei pela primeira posição. Tentei viver minha vida. Afundei-me em um universo rodeado de Moby, Schopenhauer, Beastie Boys e futebol. Caminho livre e ensolarado por um tempo. Posso dizer até que cheguei lá por um tempo. Consegui paz de espírito (??) por algumas horas. Uma espécie de transe intergalático entre o que sou e pretendo ser. Um remix individual de emoções.

Por volta de meio-dia, surtei. Que ela está fazendo? Por que não me ligou ainda? Está tudo tão divertido assim? Não se trata de desconfiança ou suspeita. Só uma coceira e uma curiosidade de saber o que minha pessoa preferida deste mundo está realizando em determinado momento da história deste planeta. Questão de tempo e espaço. Presente. E agora? Desabafo por aqui e o que ela faz? Estará andando em alguma rua florida? Comprando roupas? Nadando na praia? O quê? Eu sei que estou aqui, exatamente às 22h de uma véspera de feriado, ilhado em São Cristóvão pela chuva intensa.

O fundo branco é onde vou descarregar o peso da minha excitada consciência. Serão longos sete dias e espero que eu saiba administrar a ausência com maturidade e postura. Deus sabe que não vou conseguir. Em algum momento, como um selvagem sem instrução e educação, irei explodir em algum gesto ou discurso inflamado. Confusão.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Relva negra

É... tem sido uma virada de ano longa e sombria. Os tetos caem sobre o chão e o solo levita sob a consciência pesada de gestos do passado. Neve por todos os lados. Apenas a substância não é mais branca como há meses atrás. Algo seco e estranho percorre essa atmosfera antes confortável. Posso perfeitamente lembrar de quanto tudo era apenas uma noite calma e divertida em um banquinho tosco. As imagens surgem por janelas de imaginação que me permito abrir em minha frente para enxergar atrás de um muro de confusão, orgulho e falta de comunicação. Obstáculo este congelado. Uma repulsa contra qualquer ato ou sentimento redentor. Os arquitetos do futuro se desentenderam quanto a seus planos. Caminhos separados, dizem. Diferenças que não podem ser transpostas. Uma pessoa madura. Outra imatura. Uma bonita. Outra feia. Uma divertida. Outra introspectiva. Pior: um carnaval de personagens em festa ao redor. "Você não parece bem". "Quer continuar com isso". "Pense no que é melhor para sua vida". Dizem os querubins da tristeza. Respondo eu: se o amor existe, onde está? Saia de trás destes arbustos realistas e deite-se comigo nesta relva negra que chamam por aí de solidão.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Livrai-me de toda lucidez

Livrai-me de toda lucidez

Amém de luzes tardias

Desnutridas sob o soprar.


O normal e sua flacidez.

Moleza que refém fazias

Do meu pesar a carregar.


Serei o que você me fez

E me tornarei o que querias

Quando este calor passar.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

P.C.

A tela acesa
(Eu a acendi)
Brilha uma beleza

Frente ao meu rosto.
Na sala lotada
Junto com o meu pesar,
Jaz sobre a mesa sentada
Um cubo a desnortear.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Felicidade

Doces tardes de domingo
Noites em branco no escuro.
Só você em sua doçura
Apenas eu em minha amargura.
Felicidade temporária e eterna.

Passadas a dor e as dúvidas,
Tudo aquilo não será em vão.
O machucado
A cicatriz
A cura
Perdidas no chão.

Ao acordar ao seu lado
Invencibilidade em meu corpo
Felicidade temporária e eterna.

Dor dor dor
Felicidade temporária e eterna.
Dor dor dor
Sem felicidade temporária e eterna.
Dor dor dor
E a felicidade temporária e eterna
Titubeia e ameaça se quebrar

O romance é precioso
Mas pode sumir entre calmas
Que possessivas aprisionam
E arranham nobres almas.
Só meu vício é obsessão,
Uma loucura e uma paixão,
Febril em suas pancadas
E eternamente preso a seu coração.

Maravilhado
Admirado
Contente
Por sua felicidade.
Temporária e eterna
Madura com a idade.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Impotência

O desassossego de pensar
É o esquecer de sentir
O que ainda não é pra falar
E o que ainda é demais pra pedir

Esvazie-se do passado imperfeito
Conjugado por verbos irreais.
Assuma que o “nós” é o meio
E o “eu” parte de memórias frugais.

Impotência viral
Profusão de perdas
Ganho reverso.

Manchas no mural
Multidão de deixas
Amor perverso